quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Contentamento Descontente






Com a consciência pesada. Tá confesso, estava assistindo BBB. Sim, podem me chingar, mas o interessante é que acabei inspirada pra escrever. E vejam só, não é que a pobre coitada da Maria serviu pra alguma coisa? Pra quem não assiste, a talzinha anda numa sinuca de bico, por ter "ficado" com um carinha que acabou saindo do programa. Ela, mais que depressa, deu mole pra outro bombadão dentro da casa... esquecendo o tão tórrido amor que sentia. A produção, pra phoder com a garota, tratou de mandar de volta o falecido, só pra ver o circo pegar fogo. HAHAHAHAHA, putz, me puxei! Não se assutem, meu assunto é claro, é outro.

Pushing play... ♪♫ And I’m gonna give all my secrets away... ♪♫


Ah o amor...
Tornamos ele tão superficial.
De menina, ensinada a acreditar que o amor é pra sempre. Que o príncipe encantado existe. E que assim que o encontrasse tudo seria perfeito. Felizes para sempre... né?
Cômoda fantasia de esperar pelo amor e não fazer nada pra que ele de fato ocorra. Fácil exigir a perfeição de outrem sem primeiro buscar em si mesmo as respostas para a própria felicidade.

Na adolescência elas aprendem que amar é beijar na boca. Quanto mais beijo, mais amor. Até encontrar "aquele". Primeiro Rei... o mundo, meu tudo. E o tudo um dia acaba e ela vê que aqueles princípes na realidade estão mais pra sapos e que sua própria majestade se perdeu.

"Quem sabe o príncipe virou um chato que vive dando no meu saco”...
Os príncipes ainda existem. Só mudaram... perderam seu encanto. Os cavalos brancos, as virtudes e a coragem substituídos pelo somatório de amores na noite. Príncipes e princesas fingindo ser algo que não são. Romantismo? Jamais!  Ser romântico já virou sinônimo de pegajoso, grudento, ultrapassado.
Sim, a sociedade mudou, o modo de amar é diferente. E pior do que dizer "eu te amo" é dizer "é pra sempre". Me deixa irritada essa banalização de certos valores e sentimentos que não poderiam perder o sentido. Amar não é simples, não é qualquer gostar.  Amar é maior que tudo e sobre tudo.
Vivemos dias de falsos amores. Tá na moda namorar um mês, dizer que ama, e no outro mês já amar outro (a) e assim vai. Albúm no Orkut, título: minha vida! Enquanto no fundo não sabem nem o que é viver de fato. Fotos do casal.  Momentos felizes. Amor confundido com CARÊNCIA, tentando esquivar a solidão. Depois é só deletar e colocar outro né?  Enganam aos outros e a si próprios. Amor que não tarda a acabar, afinal, nem começou – nem existiu! Eu te amo é o cacete – já diria a sábia Dercy Gonçalves.
Esse meu seticismo aumentado tenta me convencer que somos nós mesmos os culpados de tudo.   Nós atribuímos demais ao tal de amor... essa simples e eufórica liberação de dopamina, endorfina e adrenalina.  HAHAHAHAHA! Tentar se convencer disso é tão impossível quanto imaginar um mundo sem isso.
 Amar não é tão fácil e banal quanto parece.
Não existe amor que não seja construído com o tempo. Encarar a outra pessoa de forma sincera e real, exaltando suas qualidades, mas sabendo também de seus defeitos. Oscar Wilde, que adoro, disse: "Amar é ultrapassarmo-nos".  Quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser.  Se não for assim, é apenas um gostar bonito.
Não se engane não, eu também tenho medo.  É aquele medo de ficar sozinha versus o medo de amar, entende? Parece absurdo, mas o amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, pode acabar. Porque os corpos se entendem, mas as almas não.  A ferida abre, dói e com o tempo, sara.  Ficam as cicatrizes que nos formam, nos definem, que nos dizem quem nós somos.
Por tudo isso, corajosa eu permaneço. A pesar do justificado medo.  O amor me fez o que eu sou, me colocou onde eu estou. E esse mesmo amor me levará aonde eu quiser chegar.

Difícil falar de amor.  Impossível não falar de amor.
Banalizado, diminuído, menosprezado amor.

" Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria..."
                                                                                       
                                                                                                                 Renato Russo


domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sísifo e eu.



Me sinto como Sísifo no sopé da montanha! Com meus fardos, mas com a felicidade superior que nega os deuses e levanta as rochas.
Essa vida enfim não me parece estéril nem fútil.  Fui convencida da origem bem humana de tudo o que é humano. Abro meus olhos para o mundo. Não serei mais uma na marcha daqueles que desejam ver mas que tem a consciência que lhes faz covardes. O medo depende da imaginação, a covardia do caráter - já diria J. Joubert.   A rocha pesada, ainda rola. 
Sísifo, o herói absurdo. Tanto por causa de suas paixões como pelo seu tormento. Compartilhamos o mesmo descaso pelos deuses (metafóricamente falando), o ódio à morte e a paixão pela vida. Compartilhamos do mesmo descaso, da mesma censura. Pobres deuses. A audácia e a leviandade revelou seus segredos. Aqui como lá, há os interpéres indizíveis, preço pago pelas paixões terrenas.
Em cada momento que abandono o cume,  encontro paz.  Em cada instante em que vivo uma situação, digo o que penso e aprendo com isso, sou como Sísifo - superior ao meu  próprio destino. Sou mais forte do que a rocha.  Mas ela, assim como as malezas e feiuras de nossos dias, vai sempre estar rolando. 
Tragico? Sim. Estamos eu ele conscientes disso.

Por incrível que pareça, o que traz esperança é a própria pedra. Composta de cada grão, cada estilhaço mineral da montanha cheia de noite, constrói por si só um mundo. A própria luta para chegar os cume basta para encher o coração. 
Sísifo era feliz.
Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas..
(Mário Quintana )