domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sísifo e eu.



Me sinto como Sísifo no sopé da montanha! Com meus fardos, mas com a felicidade superior que nega os deuses e levanta as rochas.
Essa vida enfim não me parece estéril nem fútil.  Fui convencida da origem bem humana de tudo o que é humano. Abro meus olhos para o mundo. Não serei mais uma na marcha daqueles que desejam ver mas que tem a consciência que lhes faz covardes. O medo depende da imaginação, a covardia do caráter - já diria J. Joubert.   A rocha pesada, ainda rola. 
Sísifo, o herói absurdo. Tanto por causa de suas paixões como pelo seu tormento. Compartilhamos o mesmo descaso pelos deuses (metafóricamente falando), o ódio à morte e a paixão pela vida. Compartilhamos do mesmo descaso, da mesma censura. Pobres deuses. A audácia e a leviandade revelou seus segredos. Aqui como lá, há os interpéres indizíveis, preço pago pelas paixões terrenas.
Em cada momento que abandono o cume,  encontro paz.  Em cada instante em que vivo uma situação, digo o que penso e aprendo com isso, sou como Sísifo - superior ao meu  próprio destino. Sou mais forte do que a rocha.  Mas ela, assim como as malezas e feiuras de nossos dias, vai sempre estar rolando. 
Tragico? Sim. Estamos eu ele conscientes disso.

Por incrível que pareça, o que traz esperança é a própria pedra. Composta de cada grão, cada estilhaço mineral da montanha cheia de noite, constrói por si só um mundo. A própria luta para chegar os cume basta para encher o coração. 
Sísifo era feliz.
Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas..
(Mário Quintana )

Um comentário:

  1. Quando estamos chegando com nossa grande pedra, no topo da montanha, sempre ocorre algo inesperado que faz com que "forças irreversíveis" levem-na de volta ao início. Então, erguemos a cabeça e tantamos levar a grande pedra de volta ao cume; agora desviando dos obstáculos já conhecidos...
    Saber que se está no caminho certo, para chegar ao topo da montanha, basta por si só.

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